Ele sempre esteve ali ...
Diálogo de Deus com a Alma que se sente abandonada...
Meu filho, minha filha...
Quantas vezes você acredita que eu me afastei?
Quantas vezes a dor, a solidão ou o silêncio profundo da vida fizeram você pensar que eu dei as costas?
Eu sei… dentro do coração da criatura humana, quando o amor não é correspondido ou quando a presença esperada não se faz sentir, instala-se uma ferida. A psicanálise chama de abandono aquilo que, na alma, se traduz em ausência, em vazio, em falta. Mas o amor verdadeiro, aquele amor que me une a você, não conhece ausência, apenas silêncio que cura.
Quando o meu Filho, pregado naquela cruz, gritou: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?”, não era uma ruptura entre nós.
Era o peso humano do desamparo. Era o inconsciente humano trazendo à tona a angústia que todos vocês carregam: o medo de não serem amados. Naquele instante, Ele representava cada um de vocês. Mas nunca houve separação. O amor que nos unia, Pai e Filho era tão profundo que mesmo o silêncio tinha o perfume da presença.
Você, criatura minha, também me pergunta: “Deus, por que me deixaste?”E eu respondo: eu nunca deixei. O que acontece é que, quando a dor grita, os ouvidos da alma se fecham. Você sente o abandono porque confunde o silêncio com ausência, mas na verdade o silêncio é cuidado. É espaço para que você descubra sua força, sua essência, sua capacidade de viver apesar da dor.
O amor sempre deixa marcas, e as minhas marcas são eternas. A psicanálise nos mostra que toda experiência de amor e dor fica gravada no inconsciente, moldando os laços e as memórias. Da mesma forma, o amor que tenho por você se inscreve em cada célula da sua existência, mesmo quando você insiste em esquecer.
Eu nunca abandonei meu Filho na cruz, e nunca abandonarei você nas suas cruzes diárias. Caminho ao seu lado quando ninguém vê, choro junto com suas lágrimas invisíveis, abraço suas angústias no silêncio da noite.
Eu não fujo de você, nem mesmo quando você se afasta de mim. O amor que criei entre nós é maior que qualquer rejeição, maior que qualquer medo, maior que qualquer solidão.
Não quero que pense que sou um Pai que dá as costas. Não. Eu sou o Pai que espera, o Silêncio que consola.
Mesmo quando você sente que não mereceu o amor, eu já o dei. Mesmo quando você me acusa de abandono, eu continuo segurando sua alma para que ela não desmorone e muitas vezes te carregando no colo.
Nunca dei as costas aos meus filhos, nunca darei. O amor verdadeiro não abandona, apenas se transforma em presença sutil, em esperança que renasce.
Então, quando você se sentir esquecido, lembre-se: o grito da cruz não era a prova da ausência, mas a revelação de que até na dor mais profunda, nós estávamos juntos. Assim é com você. Até quando você pensa estar só, eu estou dentro de você, sustentando o fio invisível que não deixa sua vida se perder.
Com carinho CR.