Quando a Dor se Torna Luz ...
Do Caos ao Sentido ...
Há momentos em que a vida parece se despedaçar diante dos nossos olhos. São dias em que a alma olha para dentro e só encontra silêncio, ruína e vazio. Situações em que os sonhos parecem desfeitos e a esperança se dissolve como areia entre os dedos. É nesse exato instante, quando tudo nos grita que não há saída, que surge um sopro que não vem de nós mesmos:
o sopro da fé.
Ele nos lembra que, mesmo quando tudo parece impossível, Deus reconstrói.
E essa reconstrução divina não é mágica no sentido de apagar o passado. Não é uma borracha que elimina a dor. Pelo contrário: é um mistério que transforma aquilo que parecia morte em vida, aquilo que parecia fracasso em fundamento para algo maior.
Deus pega os fragmentos, recolhe cada pedaço que julgávamos perdido e, com mãos de Pai, edifica um caminho que não víamos antes.
Na psicanálise, esse movimento ganha nomes técnicos, mas profundamente humanos.
Chamamos de elaboração a coragem de encarar a dor, de olhar para as marcas que tanto tentamos esconder e dar-lhes um novo significado. Elaborar é permitir que o inconsciente, antes aprisionado na sombra do passado, encontre uma nova linguagem, uma nova saída, uma nova possibilidade de existir. É quando aquilo que parecia ferida aberta começa a cicatrizar, não pela negação, mas pela aceitação transformadora.
E há também a sublimação, que é talvez o milagre mais próximo daquilo que o Evangelho nos ensina. A energia da dor, que poderia se tornar destrutiva, é elevada e se converte em amor, em criação, em espiritualidade.
É como se o sofrimento, em vez de nos consumir, se tornasse combustível para criar algo maior que nós mesmos. Nesse processo, o impossível psíquico se torna possível, e a vida, que parecia estagnada, volta a pulsar.
Jesus dizia: “Eis que faço novas todas as coisas.” E não há frase que traduza melhor esse processo. A alma, quando abre espaço para Deus, deixa de estar aprisionada no ressentimento, na perda ou na solidão. É como uma casa escura que, de repente, abre suas janelas e permite que a luz entre. Deus não nos devolve o que se perdeu como se fosse uma troca simples.
Ele nos dá algo mais profundo: novo significado.
Assim, a dor não é negada, mas passa a ter outra representatividade.
O ressentimento não é apenas abafado, mas transformado em perdão.
A perda não é apenas suportada, mas convertida em aprendizado.
A morte, no seu sentido mais simbólico, dá lugar à ressurreição da esperança.
E o que parecia impossível torna-se, pela força do psiquismo e pela graça de Deus, não apenas possível, mas caminho de crescimento e maturidade.
Na verdade, tanto a psicanálise quanto a fé nos ensinam uma mesma lição:
dentro do caos pode nascer um novo sentido. Aquele que tem coragem de enfrentar suas sombras descobre uma luz interior que não conhecia.
E aquele que abre espaço para Deus dentro de si experimenta uma reconstrução que vai além da razão, porque toca a eternidade.
No fim, a vida não é sobre fugir da dor, mas sobre permitir que ela nos transforme. E é justamente nesse ponto que fé e psicanálise se encontram: na certeza de que o sofrimento não é o fim, mas uma passagem. Que aquilo que parecia fim de tudo pode se revelar início de algo maior. Porque, quando tudo parece impossível, o impossível de Deus se torna a possibilidade mais real que existe dentro de nós.
Com Carinho CR.