Quando o Perdido se Encontra ...
E você me diz: “estou perdido” ...
“... Não é estranho. Só podermos ver o nosso lado de fora, quando quase tudo acontece do lado de dentro. Imagino como seríamos se tivéssemos menos medo ...”
[Esse trecho é do livro O Menino, a Toupeira, a Raposa e o Cavalo (título original em inglês: The Boy, the Mole, the Fox and the Horse), escrito por Charlie Mackesy.]
E eu sorrio em silêncio, porque sei que todos nós nos sentimos assim em algum momento. A falta de direção é parte da jornada, um chamado da alma. A cada descompasso dentro de nós, a vida sussurra que há algo que ainda precisa nascer.
“E o que você quer ser quando crescer?”
E a resposta vem suave, quase como quem revela um segredo:
“Quero ser gentil.”
E eu penso: que maturidade tão rara! Pois, no fundo, o maior crescimento humano não está em títulos ou conquistas externas, mas em aprender a habitar a ternura, a delicadeza e a entrega.
A psicanálise nos lembra que vivemos entre dois mundos, o de fora, que mostramos, e o de dentro, onde tudo pulsa e se constrói em silêncio.
É estranho, sim, sermos vistos apenas pela casca, quando é no subterrâneo do inconsciente que se guardam os verdadeiros movimentos da alma.
E então me pergunto: como seríamos se tivéssemos menos medo?
Se, em vez de escutarmos tanto as vozes do terror e da dúvida, déssemos mais espaço aos nossos sonhos?
Talvez seríamos mais inteiros, talvez mais livres.
Você me pergunta se está perdido.
Eu respondo: não é você que está perdido, somos nós que estamos.
Porque a sensação de estar à deriva é um espelho partilhado, não fala apenas de você, fala de todos nós.
E quando as lágrimas escorrem, não as veja como fraqueza. Elas são o corpo falando a língua da alma. São a força de quem ousa sentir, de quem não congelou o coração.
Na psicanálise, o choro é também revelação: é o inconsciente que encontrou uma fenda para se expressar, é a dor pedindo tradução em amor.
Por isso, não se assuste. As lágrimas caem por uma razão, são sementes que regam a terra íntima, preparando-a para o florescer do que ainda virá.
Com Carinho CR.