Livrai-me de todo o mal... Amém !!!

 



Essa é a jornada. Uma travessia de dentro para dentro. Porque nenhuma verdadeira transformação acontece de fora para dentro. A alma só se cura quando retorna ao centro onde habita a Presença, onde reina o Espírito Santo, onde o adversário não alcança. 


Índice:

Introdução – O mito do mal exterior

Capítulo 1 – Quem é Satanás?

Capítulo 2 – A anatomia do mal

Capítulo 3 – O ser humano como canal da luz… ou da sombra

Capítulo 4 – Deus não precisa de defensores, precisa de imitadores

Capítulo 5 – A Queda como esquecimento de si

Capítulo 6 – O mal institucionalizado: quando a sociedade se desconecta

Capítulo 7 – O Cristo e o padrão moral cósmico

Capítulo 8 – O caminho da reconexão

Capítulo 9 – O exorcismo silencioso: a escolha diária pela luz

Capítulo 10 – A Outra Face da Liberdade: O Silêncio Que Vence o Adversário

 Capítulo 11 – O Silêncio: Espada Invisível contra o Adversário Interior

 Capítulo 12 –  O Perdão: O Desarme Final do Adversário Interior

 Capítulo 13 – Vigiai: A Consciência como Sentinela da Alma

 Capítulo 14 – A Oração: Habitar a Presença que Dissolve o Adversário

 Capítulo 15 – A Cura Original: A Reconexão com Deus como Fim do Adversário

 Epílogo – O adversário em mim, a luz em mim

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Capítulo 1 – Quem é Satanás?

Durante séculos, a figura de Satanás foi pintada com as cores do medo. Chifres, tridente, fogo eterno. Uma entidade sombria habitando regiões infernais, rival de Deus, príncipe das trevas. Essa imagem, embora profundamente enraizada no imaginário popular, é muito mais fruto da tradição cultural e teológica cristã medieval do que de uma revelação original.

Se voltarmos às raízes mais antigas da espiritualidade, sobretudo ao judaísmo, encontraremos uma figura muito diferente.

Satanás: o adversário, não o inimigo de Deus

A palavra “Satanás” vem do hebraico satan (שָּׂטָן), que significa, literalmente, adversário”, “acusador” ou “opositor. No texto bíblico hebraico, ele não é descrito como uma entidade demoníaca rebelde que governa um submundo. Ele aparece, por exemplo, no livro de Jó, como um agente da corte divina, alguém que questiona, desafia, testa. Quase como um “promotor de justiça” espiritual.

“Um dia vieram os filhos de Deus apresentar-se perante o Senhor, e Satanás veio também entre eles.”(Jó 1:6)

Esse “Satanás” está subordinado à ordem divina. Ele não tem autonomia para agir fora da permissão de Deus. Ele é, na linguagem simbólica, um provocador, um revelador de intenções ocultas, um espelho que desafia a alma a mostrar sua verdadeira face.

Portanto, ele não é um deus do mal. E muito menos um ser em guerra com o Criador.

A partir desse entendimento, percebemos que o verdadeiro adversário não é uma entidade fora de nós, mas o estado interior que se opõe à lei do amor, da justiça e da verdade.

Quando o adversário mora em nós

A proposta deste livro não é demonizar o ser humano, mas iluminá-lo com consciência. O mal existe não como uma força mística fora de controle, mas como uma possibilidade humana real, que se manifesta toda vez que alguém escolhe se afastar da luz.

O adversário é, muitas vezes, silencioso:

·         Ele surge no coração que sente prazer em humilhar.

·         Ele vive na mente que mente para proteger o ego.

·         Ele se instala nos olhos que ignoram o sofrimento do outro.

Não é necessário nenhum demônio externo para justificar o horror. Basta que a alma humana se desconecte de Deus, e o vazio dessa ausência será ocupado pelo egoísmo, pela indiferença, pelo ódio.

O “Satanás” mais perigoso não está nos céus, nem no submundo está no coração desconectado.

A evolução do mito do diabo 

Com o tempo, especialmente nas tradições cristãs posteriores, essa figura foi sendo transformada. Influências persas (o dualismo entre bem e mal), helenísticas e medievais foram compondo o que hoje é conhecido como “diabo”: um ser personificado, oposto absoluto de Deus, encarregado de tentar, dominar, punir.

Esse modelo simbólico teve seu valor pedagógico em épocas de baixa instrução e espiritualidade coletiva imatura. Ele serviu como alerta, como arquétipo. Mas, quando tomado como realidade literal, gerou pavor, alienação e uma perigosa transferência de responsabilidade.

“Não fui eu. Foi o diabo.”

Essa frase resume uma fuga: a fuga do dever de assumir as próprias escolhas.

Mas a espiritualidade que liberta, ao contrário da que aprisiona, chama o ser humano à autorresponsabilidade. E nesse ponto começa a virada fundamental: compreender que o mal é um território interior e que, portanto, o adversário somos nós, quando nos tornamos adversários da luz.

Conclusão: uma nova forma de olhar para o mal

Não se trata aqui de negar que forças espirituais possam influenciar o mundo. Mas sim de reconhecer que a porta de entrada dessas forças está dentro do próprio ser humano em seus pensamentos, sentimentos e decisões.

Assim como existe uma centelha divina em nós, existe também um espaço que pode ser corrompido. O que define quem seremos não é a crença que professamos, mas o grau de conexão com os valores eternos do bem.

O mal, portanto, não é um castigo. É uma consequência. E o adversário não é um demônio. É o ser humano que esqueceu de Deus em si. 

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Capítulo 2 – A Anatomia do Mal

Se o mal não é uma entidade sobrenatural, então o que é?

Se não há um ser externo conduzindo o mundo à perdição, de onde vêm as sombras que assolam a humanidade?

A resposta é direta, ainda que desconfortável: o mal nasce de dentro. Ele se estrutura em camadas sutis dentro da psique humana. Não surge de repente, nem sempre é escandaloso. Ele se infiltra aos poucos, como uma rachadura silenciosa que cresce no alicerce da alma.

O mal como ausência

Muitos pensadores já notaram que o mal, em sua essência, não é uma “força positiva” no sentido de possuir existência autônoma. Ele é, antes de tudo, ausência.Santo Agostinho definiu o mal como a 'privatio boni' a 'ausência do bem'.

Assim como a escuridão é a ausência de luz, o mal é o espaço deixado quando o bem é negado, silenciado ou esquecido.

Mas ausência de quê, exatamente?

De compaixão.

De consciência.

De conexão com Deus.

O mal começa pequeno. Quase invisível. É um pensamento egoísta que não foi observado. É uma mágoa que se transforma em rancor. É a normalização da indiferença. É quando o outro vira coisa. E a vida perde o seu valor sagrado.

A banalidade do mal

A filósofa Hannah Arendt, ao acompanhar o julgamento de Adolf Eichmann um dos principais responsáveis pela logística do Holocausto ficou estarrecida com sua mediocridade. Ele não era um monstro, nem um gênio maligno. Era um homem burocrático, obediente, “cumpridor de ordens”. A ele faltava justamente o que Arendt chamou de pensamento reflexivo, o exercício de julgar por si mesmo o que é certo ou errado.

Ela cunhou a expressão “banalidade do mal”.O mal que não grita. Que não tem olhos vermelhos. Mas que opera em silêncio, enquanto cada um lava as mãos dizendo: “eu só estava fazendo meu trabalho”.

O mal é, muitas vezes, a ausência de julgamento ético. A morte da consciência crítica. O hábito de fechar os olhos, até que fechar os olhos se torne um modo de viver.

O mal como desconexão

Espiritualmente, o mal pode ser definido como a desconexão da alma com sua fonte original.  Deus, neste sentido, é mais do que uma ideia religiosa: é a totalidade da bondade, da justiça, da beleza, da verdade e da ordem universal. Afastar-se disso é mergulhar no caos interior. E esse caos transborda para o mundo.

É por isso que podemos ver atos de profunda maldade cometidos por seres humanos comuns. Não são possuídos estão vazios. Vazios da presença do divino. E onde há vazio, qualquer sombra pode morar.

Essa é a anatomia do mal:

Ele nasce onde Deus foi esquecido.

Ele cresce onde a consciência se anestesia.

Ele se fortalece onde o “eu” se torna absoluto e o “nós” desaparece.

O mal e a negação do outro

O mal também se alimenta de negação da alteridade. Quando o outro deixa de ser espelho e se torna inimigo, quando o diferente vira ameaça, a faísca da violência se acende.

Toda vez que você nega a dignidade de um ser humano, você abre a porta para a crueldade. Toda vez que você ignora o sofrimento de alguém por achar que ele “merece”, você endurece sua alma.

O mal, então, não começa com atos brutais.

Começa com o coração endurecido.

Começa quando você se acostuma a ver a dor e não sentir nada.

Não existe neutralidade moral

Muitos gostam de se colocar em um lugar “neutro”. Dizem: “não faço o mal, mas também não me envolvo”. Mas o mal não precisa da sua maldade ativa. Ele sobrevive muito bem com a sua omissão.

A neutralidade diante da injustiça é uma forma de conivência. A indiferença diante do sofrimento é uma permissão tácita. O mal cresce onde o bem se cala.

Conclusão – O mal somos nós… quando esquecemos quem somos

O mal não está “lá fora”. Ele é construído em silêncio, dentro de nós, toda vez que nos afastamos daquilo que nos faz humanos: a empatia, a compaixão, a consciência moral.

A boa notícia é que, se o mal nasce de nós, o bem também pode. Podemos reconstruir a ponte para Deus a cada gesto de justiça.Podemos reacender a luz a cada escolha consciente.

O mal, por mais profundo que pareça, não é definitivo. Ele é apenas a ausência de uma presença.

E essa presença pode ser restaurada.

Quando você se lembra de Deus em si.

Quando você se lembra… que nasceu para ser luz.

Quando você se lembra que respira o ar que na verdade é Deus.

Quando você se lembra que pisa no solo que é Deus.

Quando você se lembra que vive o seu presente, um presente de Deus.... 

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Capítulo 3 – O Ser Humano como Canal da Luz… ou da Sombra

Não existe neutralidade no espírito humano. Cada pensamento, cada palavra, cada ação mesmo a mais pequena revela uma escolha. Toda escolha carrega uma direção: aproxima ou afasta o ser humano da luz. A grande ilusão de muitos é imaginar que só os atos extremos definem a bondade ou a maldade. Não. O mal raramente chega como um trovão. Ele se infiltra como um hábito. Um descuido. Uma desistência de amar.

Somos canais. Condutores. E o que escolhemos conduzir luz ou sombra depende da nossa conexão com o sagrado. 

O livre-arbítrio como semente do divino

O Criador nos deu um dom tremendo: o poder de escolher.Esse é o traço mais divino da nossa condição. Não somos marionetes de Deus, nem reféns de um destino cego. Somos cocriadores. Isso nos torna responsáveis por cada pensamento alimentado, cada sentimento nutrido, cada palavra lançada ao mundo.

O livre-arbítrio não é apenas uma liberdade de ação. É uma convocação à maturidade espiritual.É um lembrete de que não há desculpas eternas: somos o que fazemos com o que nos acontece.

E isso vale para tudo:

·         ao decidir calar ou gritar,

·         ao estender a mão ou virar o rosto,

·         ao perdoar ou revidar.

Cada uma dessas decisões desenha nosso grau de conexão com a luz. 

A desconexão é o verdadeiro “pecado”

Quando nos afastamos do bem, não perdemos apenas nossa paz interior nós nos tornamos adversários da ordem cósmica que sustenta a vida.É isso que os antigos chamavam de “pecado”: não um erro a ser punido, mas uma ruptura na ligação com o Divino.

Assim como um fio desconectado da energia elétrica deixa de iluminar, o ser humano desconectado de Deus deixa de irradiar luz.Ele se torna sombra.Mas não é uma sombra estática. É uma sombra ativa. Que fere, que corrompe, que multiplica sofrimento em si e nos outros.

Não há “diabo” maior do que um espírito consciente que opta por ignorar a verdade que já conhece. Não há inferno pior do que viver preso à própria indiferença. 

A espiritualidade como responsabilidade

Muitos buscam a espiritualidade como consolo. Outros, como proteção. Poucos, porém, percebem que a espiritualidade é, antes de tudo, responsabilidade.

Estar em contato com o divino é aceitar um chamado: o de ser reflexo da luz.Ser canal de amor onde há ódio. Ser justiça onde há abuso. Ser compaixão onde há frieza. Ser ponte onde há muros.

Isso exige trabalho interior. Autodomínio. Humildade. Mas acima de tudo, exige vigilância: para perceber os momentos em que a sombra tenta se infiltrar por meio da vaidade, da pressa, da mágoa, da sede de razão.

Espiritualidade não é performance. É coerência.Não está no discurso, está na reação diante da dor alheia.Está na maneira como tratamos quem não pode nos oferecer nada. 

A cada dia, uma escolha: luz ou sombra

A beleza da vida está justamente nisso: nenhuma escolha é definitiva.O mal pode ser desfeito. O bem pode ser fortalecido. A alma pode se reencontrar com Deus, mesmo após mil quedas.

E a cada novo dia, o universo nos coloca diante de um espelho:

Você será canal de quê hoje?

Essa é a pergunta que ecoa silenciosa no fundo de todas as ações humanas.Não importa sua religião, seu título, sua história.Importa o que você escolhe irradiar agora.

O adversário interior não é invencível.Mas ele é insistente.Por isso, o chamado é diário. O compromisso é constante.

E a verdade libertadora é esta:

quando você escolhe a luz, a sombra perde a forma. 

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Capítulo 4 – Deus não precisa de defensores, precisa de imitadores

Durante séculos, o nome de Deus foi usado como bandeira de guerras, punições e dominação. Povos foram exterminados, hereges queimados, inocentes perseguidos tudo em nome de um Deus que, ironicamente, é amor.Em nome de defender Deus, o ser humano afastou-se d’Ele.

Mas Deus não precisa ser defendido. Ele não é frágil, não está ameaçado, nem depende da nossa força. O que o Divino espera de nós não é proteção é expressão. O Criador não busca soldados: busca espelhos.

Não há honra alguma em levantar a voz para pregar uma verdade, se o coração não a vive.Não há glória em proteger doutrinas com unhas e dentes, enquanto a alma permanece seca de compaixão.

Deus não precisa de defensores.Precisa de imitadores. 

A espiritualidade performática

Vivemos num tempo em que o discurso religioso cresceu, mas o silêncio interior rareou.Há milhões de pessoas falando sobre Deus…Mas quantas estão falando com Deus?

Nas redes sociais, nos púlpitos, nos debates há indignação, julgamentos, rótulos, ameaças. Todos se acham portadores da “verdade”.Mas o verdadeiro contato com o sagrado não se manifesta em gritos.Se manifesta em gestos.

A espiritualidade genuína não é espetáculo. É coerência.Ela se prova não quando você está sendo visto, mas quando ninguém está olhando.É fácil defender Deus com palavras. Difícil é viver como Ele viveu em Cristo. 

Jesus: o verbo que se fez exemplo

O Cristo não veio ao mundo pedir templos nem títulos.Ele não deixou livros, dogmas ou sistemas teológicos.Ele viveu.

Curou sem cobrar. Perdoou sem limite. Amou sem condição.Seu maior argumento não foi o discurso foi a conduta.

É possível que alguém estude a Bíblia inteira e nunca compreenda o coração de Jesus.Porque a verdadeira teologia do Cristo não está nos versículos.Está no que você faz quando é traído.Está no que você escolhe quando é ofendido.Está em como você trata o diferente, o pequeno, o desprezado.

Imitar o Cristo não é citá-lo. É encarnar sua postura no mundo. 

Religião é um meio, não um fim

O movimento religioso, por mais respeitável que seja, é uma construção humana. E como toda construção humana, é imperfeita, parcial, limitada.

Deus não está preso a uma placa, a um dogma, a um ritual.Ele se revela a quem O busca com sinceridade, seja onde for.

Quando alguém acredita que sua religião é a única rota para o céu, já está afastado da essência divina.O verdadeiro espiritualista não se sente superior: sente-se responsável.Ele não impõe sua fé, ele inspira com seu exemplo.

A pergunta não é:

“Qual é a sua religião?”

A pergunta é:

“O que a sua religião fez de você?” 

A missão: viver o divino entre os humanos

Imitar Deus não é tornar-se perfeito.É tornar-se disponível.Disponível para amar, escutar, perdoar, servir, transformar.

É viver como se cada gesto fosse uma oração.Como se cada encontro fosse um altar.Como se cada ser humano fosse o próprio Cristo disfarçado.

Deus não nos quer fanáticos.Nos quer fraternos.Não busca guerreiros religiosos.Busca seres despertos.

O mundo não será salvo por doutrinas corretas,mas por corações coerentes. 

Porque no fim das contas, a maior pregação é a própria vida. 

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Capítulo 5 – A Queda como Esquecimento de Si

Durante séculos, falou-se da Queda como um evento mítico: Adão e Eva no Éden, a serpente, o fruto proibido, a expulsão do paraíso. Mas a verdade mais profunda desse símbolo não está na história, está dentro de nós.

A Queda não é um acontecimento distante no tempo. Ela acontece todos os dias.

Ela acontece toda vez que alguém se esquece de sua essência divina.Toda vez que o espírito imortal, feito à imagem da luz, se reduz a um corpo movido pelo ego.Toda vez que o ser, nascido para o amor, se rende ao medo, ao orgulho, ao poder.

A Queda não é geográfica é espiritual. Não é o deslocamento do paraíso. É o afastamento da consciência. 

O esquecimento da origem

Há dentro de cada ser humano uma lembrança ancestral a de que viemos da luz. Essa lembrança às vezes se apaga sob camadas de dor, trauma, condicionamento, orgulho ou vaidade.

Quando nos desconectamos dessa origem luminosa, perdemos o eixo, a direção, o sentido. Começamos a buscar fora o que só pode ser reencontrado dentro.

A Queda é isso: o esquecimento da verdade sobre quem somos.

Não fomos criados para competir. Não fomos moldados para ferir. Não nascemos para dominar.

Fomos feitos para cooperar, curar, construir juntos. E toda vez que nos desviamos disso, caímos.

 

Não há anjo caído que caia mais do que um homem que nega sua alma

A figura do “anjo caído” sempre fascinou o imaginário religioso. Mas a mais trágica de todas as quedas é aquela que acontece em silêncio, no íntimo do ser humano que já conheceu a verdade e ainda assim escolhe a sombra.

Quando alguém desperta espiritualmente, mas insiste em negar sua vocação para o bem, a queda é mais profunda.Porque já não é ignorância. É escolha.

O mal praticado por ignorância é grave.Mas o mal praticado com consciência é devastador para quem o pratica e para quem o recebe.

Por isso, o chamado à vigilância é constante.Quanto mais luz recebemos, mais responsáveis nos tornamos por ela. 

A queda é reversível

Diferente das antigas doutrinas que viam o pecado como uma condenação sem retorno, a espiritualidade viva nos ensina que toda queda é uma oportunidade de reerguimento.

Caímos por orgulho mas podemos levantar com humildade.Caímos por vaidade mas podemos retornar com verdade.Caímos por medo e só o amor pode nos redimir.

A consciência pode adormecer, mas nunca morre.Ela espera o momento do retorno. E quando esse momento chega, o paraíso não está mais em um lugar, mas em um estado de ser. 

O retorno como reconciliação

O retorno não é mágico. É progressivo. É um caminho de reconciliação com a nossa origem divina e com tudo o que ferimos enquanto dormíamos.

Não se trata de perfeição, mas de lucidez. De reconhecer os desvios e ter coragem de reencontrar o eixo.

Retornar é olhar para si mesmo com honestidade. É acolher a própria sombra, sem desculpas. É escolher, mais uma vez, ser canal da luz.

Porque o Criador não espera santidade imediata. Espera autenticidade no esforço. 

A maior queda é esquecer quem somos. A maior ascensão é relembrar.

No fim, cair é humano. Mas permanecer caído é opcional.

A verdadeira elevação começa quando o ser humano se levanta do chão, limpa o pó da alma, e diz:

"Eu quero lembrar quem sou.Eu quero viver como filho da luz."

E assim, um passo de cada vez, o paraíso é reconstruídonão fora, mas dentro de nós. 

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Capítulo 6 – O Mal Institucionalizado: Quando a Sociedade se Desconecta

Até aqui, falamos do mal como experiência pessoal: um afastamento interior da luz, uma ruptura íntima com o sagrado. Mas há um outro tipo de adversário mais sutil, mais invisível e muitas vezes mais perigoso: o mal institucionalizado.

Esse não nasce apenas da vontade de um indivíduo. Ele é sistêmico, estruturado, normalizado. É um mal que se mascara de lei, se esconde sob discursos de progresso, e se perpetua com a indiferença coletiva.

É quando a sociedade, como um organismo inteiro, se desconecta de Deus. 

A frieza como cultura

Quando a dor se torna estatística, o sofrimento se torna ruído.Quando um homem dorme na calçada, e ninguém mais se espanta, a queda não é só individual. É social.

Vivemos num mundo em que:

·         a fome é aceita como “realidade”;

·         o racismo é negado como “vitimismo”;

·         a desigualdade é justificada como “mérito”;

·         e o sofrimento dos invisíveis é tratado como “colheita do próprio karma”.

Isso não é acaso.É o efeito de uma sociedade desconectada da sua alma.

Há um tipo de mal que não grita. Mas que mata em silêncio todos os dias.E ele se fortalece quando nos acostumamos. 

Quando o sistema vira adversário

Toda estrutura criada pelo ser humano seja política, econômica, religiosa ou educacional deveria existir para servir à vida.Mas, muitas vezes, essas mesmas estruturas viram adversárias do próprio espírito humano.

Um sistema que lucra com a doença, em vez de promovê-la.Um governo que protege poderosos, mas abandona os fracos.Uma igreja que condena mais do que acolhe.Uma escola que ensina a competir, mas não a sentir.

Essas instituições, quando operam fora da ética espiritual, se tornam instrumentos do adversário interior coletivo.

Não há demônio à espreita no escuro.Há escolhas humanas cristalizadas em leis injustas, políticas cruéis, discursos vazios.

E o mais grave: nos ensinaram a achar isso normal. 

A banalidade do mal

A filósofa Hannah Arendt cunhou uma expressão que ecoa até hoje: a banalidade do mal.Ela observou, nos julgamentos dos nazistas, que os maiores horrores foram cometidos não por monstros mas por burocratas, funcionários “cumpridores do dever”, que apenas seguiram ordens, sem refletir.

É assim que o mal institucionalizado se perpetua:Pessoas comuns, desatentas, que abrem mão de pensar, sentir e escolher.

O adversário se esconde na frieza da rotina.Na indiferença polida.No “é assim mesmo”. 

A espiritualidade como resistência silenciosa

Diante desse quadro, a espiritualidade verdadeira se torna um ato de resistência.Não uma resistência política no sentido partidário mas ética, moral, existencial.

Escolher amar num mundo que ensina a competir é resistência.Escolher partilhar num sistema que idolatra o acúmulo é resistência.Escolher escutar num tempo de ruídos é um ato revolucionário.

Toda vez que uma alma desperta para a luz, ela rompe o padrão da sombra coletiva.Ela não muda o mundo inteiro, mas interrompe o fluxo da indiferença em seu raio de ação.

E é assim que o mal institucionalizado começa a ruir:

Pela coragem silenciosa de quem não aceita viver anestesiado. 

Nenhuma estrutura é maior do que uma consciência desperta

Pode-se viver cercado de injustiça, e ainda assim escolher ser justo. Pode-se trabalhar em um sistema opressor, e ainda assim agir com dignidade. Pode-se caminhar entre adversários e ainda assim ser um com Deus.

O desafio não é destruir todas as instituições humanas.É transformá-las por dentro, com a presença viva da ética espiritual.

Porque no fim das contas, a cura do mundo não virá de grandes revoluções externas, mas de um movimento interior que começa assim:

“Eu não vou compactuar. Eu não vou repetir.Eu escolho a luz. Mesmo sozinho.” 

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Capítulo 7 – O Cristo e o Padrão Moral Cósmico

Muitos ainda acreditam que Jesus veio ao mundo para fundar uma religião. Que sua missão era instituir uma igreja, criar um dogma, organizar um grupo. Mas essa é uma leitura rasa humana demais, pequena demais para o espírito que se manifestou naquele homem.

O Cristo não veio fundar o cristianismo.Veio instaurar um padrão moral cósmico.

Sua vinda ao planeta não teve o objetivo de criar divisões entre fiéis e infiéis, salvos e perdidos, certos e errados. Ele veio unificar pela consciência, não separar pela doutrina. Veio iluminar a rota da alma, não erguer muros de teologia. 

O Cristo não é uma exclusividade da religião cristã

Cristo é mais do que um nome. É um estado de consciência elevado, é a expressão viva do amor divino encarnado. Sua presença e influência não se limitam ao Ocidente nem a um grupo específico. Ele é o espírito regente da Terra educador moral da humanidade inteira.

Por isso, sua mensagem não pertence a nenhuma placa de igreja. Ela ecoa onde houver sinceridade, compaixão, coragem e verdade.

É possível que alguém nunca tenha lido um evangelho e ainda assim viva o Cristo.É possível que alguém use o nome de Jesus todos os dias e nunca o tenha compreendido.

O verdadeiro discípulo de Cristo não é aquele que fala sobre Ele,mas aquele que vive como Ele. 

O padrão moral que não é da Terra

A ética que o Cristo ensinou não é uma moral humana, baseada em trocas ou conveniências. É uma moral cósmica. Ela não busca justiça baseada em merecimento, mas em misericórdia. Não se fundamenta em retribuição, mas em regeneração.

Quando Jesus disse:

“Amai os vossos inimigos”“Perdoai setenta vezes sete”“Dai a outra face”“Fazei ao outro o que quereis que vos façam”

… Ele não estava ensinando boas maneiras.Estava nos convidando a sair da lógica do ego e entrar na frequência da alma.Essa moral não é terrestre.Ela é cósmica porque é universal, atemporal e imutável.

Não depende de cultura, época ou religião.Onde houver um ser que perdoa ao invés de se vingar,que serve ao invés de dominar,que escuta ao invés de julgar ali o padrão do Cristo está sendo vivido. 

Cristo não exigia fé.  Ele inspirava transformação

Ao observar os encontros de Jesus com os marginalizados leprosos, prostitutas, cobradores de impostos, romanos vemos um padrão: Ele nunca exigiu conversão religiosa. Nunca perguntou a qual sinagoga pertenciam, nem exigiu que o seguissem externamente.

O que Ele fazia era algo muito mais profundo:acendia a luz interior que já estava apagada.

Ele tocava o íntimo, despertava a dignidade adormecida.Por isso, sua proposta nunca foi de adesão foi de transformação.

A pergunta do Cristo não era “em que você crê?”, mas:

“O que você está disposto a se tornar a partir de agora?” 

O Cristo como paradigma do novo ser

Jesus é o modelo de um homem reconciliado com o divino. Ele não veio para ser adorado, mas para ser imitado.

Seu comportamento era a revelação do que o ser humano pode vir a ser, quando unido à vontade de Deus. Por isso, Ele é um paradigma do futuro da humanidade não do passado.

O mundo ainda insiste em ajoelhar diante de Jesus, mas evita segui-lo. É mais fácil transformar o Cristo em mito do que aceitá-lo como espelho.

Mas o convite Dele segue de pé:

“Vinde e segui-me.”Não apenas com os pés com a alma. 

Seguir o Cristo é alinhar-se ao universo

Cada vez que perdoamos, em vez de punir,Cada vez que estendemos a mão, em vez de apontar,Cada vez que amamos, mesmo sem retornoestamos nos harmonizando com o eixo moral do universo.

Porque o Cristo não veio trazer uma opinião divina.Ele é a própria expressão da Lei Divina viva.

Segui-Lo não é uma escolha religiosa.É uma escolha evolutiva.  

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Capítulo 8 – O Caminho da Reconexão

Se o mal é a desconexão de Deus, então a cura está na reconexão. Voltar-se para o Alto, reencontrar o eixo interno, resgatar a centelha. Mas como se reconecta com o sagrado?Como se reconstrói o fio partido entre o Criador e a criatura?

A reconexão não é mágica, nem instantânea. Ela não se dá por palavras repetidas, nem por rituais vazios.Ela se constrói pela consciência, pela presença, pela escolha diária. 

Reconectar é relembrar quem somos

Não somos apenas corpos em busca de prazer e segurança. Somos consciências em evolução, fragmentos do divino, gotas do oceano espiritual. Esquecemos disso, e ao esquecer, caímos. Nos perdemos nos papéis, nos títulos, nas máscaras do mundo.

Reconectar-se com Deus é, antes de tudo, relembrar a origem. Lembrar que somos filhos da luz, feitos para a luz, destinados à luz.

O filho pródigo, ao cair no abismo da solidão e da miséria interior, só começou sua volta quando “caiu em si”.Esse é o primeiro passo: despertar. 

Despertar para o sagrado no cotidiano

Muitos acreditam que a reconexão com Deus exige afastamento do mundo.Mas o sagrado não está separado da vida ele a atravessa por inteiro.

Deus está nos detalhes:

·         no silêncio acolhedor de uma escuta;

·         no pão dividido com quem tem fome;

·         no perdão que quebra um ciclo de dor;

·         no trabalho feito com amor e ética.

Cada gesto de bondade é um passo de volta.Cada pensamento elevado, uma ponte que se forma.Cada atitude justa, um elo reconstruído.

Deus não quer ser adorado.Quer ser vivido. 

Reconectar-se é assumir responsabilidade espiritual

É fácil culpar o mundo, os outros, o “diabo”.Difícil é olhar para dentro e reconhecer:

“Eu sou o meu próprio adversário.”

Mas esse reconhecimento é libertador.Porque se fui eu quem me desconectei, então está em mim o poder de me reconectar.

A espiritualidade madura não infantiliza.Ela empodera.

Ser espiritual não é viver nas nuvens.É assumir a responsabilidade de ser canal da luz onde a sombra prevalece. 

Ferramentas para a reconexão

Não há uma fórmula única, mas há caminhos universais.Alguns instrumentos são comuns a todos os buscadores sinceros:

1.      O silêncio interior – A prática da escuta profunda, onde se ouve a alma.

2.      A oração consciente – Não a que mendiga favores, mas a que se oferece como instrumento.

3.      A meditação e o recolhimento – Espaço de alinhamento entre razão, emoção e espírito.

4.      O serviço ao próximo – A mais poderosa forma de reconectar-se com Deus.

5.      O estudo e o autoconhecimento – A luz que dissipa os enganos internos.

Esses elementos não substituem a vida, aperfeiçoam a vida. Não são fuga da realidade, mas instrumentos de regeneração da realidade. 

Deus não está longe está esquecido

A reconexão espiritual não é um deslocamento físico. É um reposicionamento interno.

É como se Deus estivesse sempre à porta. Mas a maçaneta está do lado de dentro.

"Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir, entrarei..."(Apocalipse 3:20)

Deus não invade. Espera ser reconhecido. Não grita. Sussurra. 

A reconexão é sempre uma escolha possível

Mesmo depois de muitos erros, mesmo depois de anos de afastamento,mesmo quando achamos que nos perdemos para sempreo caminho de volta sempre existe.

Porque a reconexão não depende do passado.Depende da vontade presente.

Quando o coração decide voltar, a alma encontra a estrada. 

Conclusão: A ponte é construída de dentro para fora

Deus nunca nos abandonou.Nós é que viramos o rosto.

Reconectar-se é realinhar-se com o propósito,reencontrar o centro, restaurar o elo.

É entender que a espiritualidade não é um luxo de poucos,mas uma necessidade de todos.

Não importa quão escura seja a noite interiorbasta uma fagulha de sinceridade para reacender a luz.

A reconexão começa agora. Dentro. Em silêncio. Com fé.  

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Capítulo 9 – O Exorcismo Silencioso: A Escolha Diária pela Luz

Não há espetáculo.Não há gritos.Não há cruzes agitadas nem água benta jogada aos berros.O verdadeiro exorcismo é silencioso.É íntimo.É moral.

Expulsar o mal de dentro de si não se faz por rituais exteriores. Faz-se pela decisão de não alimentá-lo mais. 

A sombra que se alimenta de nós

O adversário interior não tem vida própria. Ele respira os nossos ressentimentos, se nutre da nossa preguiça moral, se fortalece com cada justificativa que damos para o nosso egoísmo.

Cada vez que cedemos à indiferença, ao orgulho, ao julgamento fácil estamos alimentando o adversário. Estamos abrindo a porta do templo interior para o que nos destrói. 

Expulsar não é gritar. É calar e agir.

Há quem deseje “expulsar o diabo”, mas não quer abrir mão dos hábitos que o convidam. Quer se livrar do mal sem abdicar das sombras que acaricia.

O exorcismo verdadeiro não começa nos outros.Começa na própria consciência.

“Limpa o copo por dentro, e o de fora também ficará limpo.”(Jesus, Mateus 23:26)

O copo é a alma.E a limpeza é moral. 

Cada dia é um novo ritual de luz

Todos os dias somos chamados a escolher:

·         entre julgar ou acolher,

·         entre mentir ou falar com verdade,

·         entre reagir ou compreender,

·         entre espalhar trevas ou acender uma vela.

Essas escolhas, pequenas e repetidas, são os verdadeiros exorcismos. Elas expulsam o adversário ao negar-lhe espaço e alimento. 

A vigilância espiritual: o ofício do desperto

Reconectar-se com Deus não é um evento é uma prática contínua.Porque o adversário interior, mesmo derrotado, tenta voltar.Bate à porta com novas desculpas, novas máscaras, novos desejos disfarçados de necessidade.

Por isso, Jesus foi claro:

“Vigiai e orai.” 

Vigiai o pensamento. 

Vigiai a intenção. 

Vigiai o orgulho sutil que se esconde até na prática do bem.

O ego não morre fácil. Ele muda de roupa, mas tenta sempre retomar o controle. 

A espiritualidade é escolha, não identidade

Você pode usar uma cruz no pescoço e continuar sendo adversário da luz. Pode frequentar um templo e não deixar Deus entrar no seu caráter. A religião que salva não é a que você frequenta é a que você vive.

O verdadeiro devoto não é aquele que fala em nome de Deus. É aquele em cujo nome Deus pode agir. 

O exorcismo é reconciliação

Expulsar o adversário é, no fundo, reconciliar-se com a luz. É parar de fugir da própria consciência. É admitir a dor, o erro, a culpa e escolher seguir mais leve.

É perdoar. É se perdoar. É devolver ao outro o que tomamos. É restituir à vida a dignidade que negamos.

Não há libertação sem verdade. E não há verdade sem humildade. 

A vitória silenciosa

Você não precisa provar ao mundo que venceu suas sombras. O mundo saberá porque sua presença será mais leve. Suas palavras serão mais verdadeiras. Seu olhar terá mais paz.

O verdadeiro exorcismo não se vê. Se sente ! 

Conclusão: O retorno ao lar

No final de tudo, o adversário que combatemos era parte de nós. Era o medo, o orgulho, a ilusão.

Quando você se reconecta com Deus, com sua consciência, com o amor,não há mais espaço para ele.

O exorcismo termina com um reencontro: você, enfim, voltou para casa.

E o Pai, que estava à espera, corre ao seu encontro. Porque aquele que estava perdido foi achado. E aquele que estava morto, reviveu. 

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Capítulo 10 - A Outra Face da Liberdade: O Silêncio Que Vence o Adversário

O adversário mais sutil não é aquele que nos grita de fora é o que ecoa dentro de nós. Jesus, no Sermão do Monte, nos oferece um ensinamento que parece paradoxal: "Se alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a outra." (Mateus 5:39)

Durante séculos, esse versículo foi mal interpretado. Muitos o tomaram como um convite à submissão, à fraqueza ou à inércia moral. Mas Jesus não falava aos ouvidos literais falava à alma. Falava por símbolos, metáforas, camadas. Seu convite não é para que nos tornemos vítimas indefesas, mas para que descubramos uma força mais profunda: a força de não reagir no mesmo nível da agressão.

Dar a outra face, no contexto espiritual, é oferecer uma realidade que o adversário não conhece. Se alguém se aproxima com violência, Jesus nos convida a mostrar o rosto da paz. Se alguém fala com rancor, que nossa resposta seja compassiva. Se alguém age com maldade, que nossa atitude revele bondade. Essa é a “outra face” não física, mas ética e espiritual. A face que não se curva ao controle emocional do outro. A face livre.

O adversário interior se manifesta, sobretudo, quando permitimos que o desequilíbrio do outro desperte o nosso. Você está em paz até que alguém o provoca. Está centrado até que alguém o insulta. E então, de forma quase automática, sua conduta se torna uma reação. Você não age: você reage. E nesse momento, já não é você quem decide, mas o outro quem determina.

A verdadeira liberdade é essa: não ser governado pelas provocações externas.Até quando cederemos ao poder alheio sobre nossos estados internos?Até quando nossa paz dependerá do silêncio dos outros?Até quando permitiremos que a escuridão do outro apague nossa luz?

Dar a outra face é, antes de tudo, um gesto de soberania interior. É dizer ao adversário:"Você não me define. Eu não sou o que você me causa. Eu sou o que escolho ser."

E essa escolha é o começo da cura. Porque o mal o verdadeiro mal nasce da desconexão com Deus, e essa desconexão começa sempre que abrimos mão da nossa essência para responder ao caos com mais caos. 

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Capítulo 11 - O Silêncio: Espada Invisível contra o Adversário Interior

O silêncio não é ausência de palavras é presença de consciência. Quando Jesus silenciou diante de Pilatos, diante dos fariseus, diante das acusações injustas, ele não estava se omitindo. Estava se posicionando com uma força que não se explica em gritos, mas se impõe no invisível.

O adversário interior se alimenta da reação. Ele vive da resposta impulsiva, da necessidade de se justificar, de vencer a disputa. Mas o silêncio é a recusa a entrar no campo onde o mal triunfa: o campo da gritaria, da polarização, do ego inflamado. Quando o silêncio é autêntico, ele não é fraqueza é espada invisível.

Silenciar diante da provocação é uma forma de impedir que o adversário se alimente de nós.É recusar o papel de espelho.É frustrar o circuito da agressividade.

O silêncio, quando maduro, é uma fortaleza. Ele não é o silêncio da covardia, mas o silêncio da lucidez. É quando o espírito se recusa a baixar seu padrão vibratório apenas para vencer uma batalha inútil. É o silêncio que vence sem lutar. O silêncio que desarma.

O mundo interior do ser humano é um campo de guerra. Vozes se levantam, impulsos lutam por domínio, lembranças inflamam o sangue. E justamente ali, dentro, é que o silêncio precisa nascer: o silêncio de não responder ao impulso, o silêncio de escutar Deus antes de agir.

É nesse silêncio que o adversário interior se revela. Ele aparece como impaciência, raiva, pressa de responder, sede de provar. Mas quando você cala e observa, ele se enfraquece. Porque ele depende de você para existir. Ele precisa da sua adesão.

Portanto, o silêncio é a rendição ao Alto.É dizer: “Eu não preciso provar. Eu não preciso vencer. Eu só preciso permanecer inteiro.”

Jesus, em muitos momentos, respondeu com palavras. Mas nos momentos cruciais, seus maiores gestos foram silêncios. Porque o silêncio tem uma linguagem que só os corações puros compreendem. 

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Capítulo 12 - O Perdão: O Desarme Final do Adversário Interior

Perdoar não é esquecer. Também não é justificar. Muito menos permitir a repetição da ofensa. Perdoar é romper o ciclo. É dizer: “Eu não serei mais continuação do mal que me feriu.”

O adversário interior não precisa que você odeie. Basta que você não perdoe. Basta que você guarde. Basta que você se lembre com dor, com raiva, com mágoa. O ressentimento é um elo um grilhão invisível que liga a vítima ao ofensor, mesmo a quilômetros de distância.

Perdoar é soltar esse grilhão. É desfazer a prisão do coração.É libertar o outro mas sobretudo, libertar a si mesmo.

Quando Jesus diz: “Perdoai setenta vezes sete” (Mateus 18:22), ele não está oferecendo uma matemática do perdão. Ele está revelando que o perdão é um caminho. Um estado. Uma prática espiritual constante, porque a alma humana, ao longo da vida, será muitas vezes ferida e se cada ferida virar rancor, o espírito se torna um cemitério de dores.

O perdão é o maior gesto de autonomia espiritual.É quando o bem dentro de mim se recusa a ser destruído pelo mal que veio de fora.É quando minha luz não se apaga diante da sombra alheia.

Há quem pense que perdoar é fraqueza mas nada exige mais força. Porque perdoar é atravessar a dor sem permitir que ela te transforme em algo que você não é. É olhar o ofensor e dizer em silêncio: “Você não tem mais poder sobre mim.”

E é isso que o adversário interior mais teme:Que eu me torne livre.Que eu não reaja mais conforme o trauma.Que eu não me defina mais pelo que me fizeram.Que eu perdoe.

Porque o perdão não muda o passado mas desamarra o futuro. 

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Capítulo 13 - Vigiai: A Consciência como Sentinela da Alma

Jesus advertiu com firmeza: “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação.” (Mateus 26:41)Essa não é uma recomendação para os fracos é uma convocação aos fortes. Porque vigiar exige presença, exige lucidez, exige a coragem de olhar para dentro, todos os dias, sem autoengano.

A tentação que Jesus menciona não é apenas o ato externo, visível, escandaloso. A verdadeira tentação começa no invisível: no pensamento não observado, no sentimento cultivado em silêncio, na narrativa mental que se repete sem questionamento. É assim que o adversário interior ganha espaço de forma sorrateira, como uma brisa que, pouco a pouco, vira vendaval.

Vigiar é manter o espírito desperto.É escutar o que se pensa.É perceber o que se sente.É discernir o que se repete.

A ausência de vigilância abre portas. Pequenas portas. Quase imperceptíveis. E por elas entram o orgulho disfarçado de justiça, a raiva disfarçada de zelo, a inveja disfarçada de zelo por Deus. O adversário interior é sutil. E se você não vigia, ele toma a sua voz, os seus gestos, as suas palavras e você ainda acredita que está fazendo o bem.

Por isso, Jesus une a vigilância à oração. Porque quem vigia sem oração se torna apenas um controlador. E quem ora sem vigilância se torna um ingênuo. É a união das duas práticas que sustenta o espírito na lucidez.

Vigiar é conhecer os próprios mecanismos de queda.É saber onde se tropeça.É notar o instante exato em que a emoção tenta tomar o lugar da consciência.É interromper o ciclo antes que ele te consuma.

O adversário interior, uma vez identificado, não desaparece. Ele espera. Ele se recalca. Ele ronda. E por isso é preciso vigiar sempre. Porque não há um dia sequer em que a alma possa viver no piloto automático.

Vigiar é amar a própria alma com responsabilidade. É mantê-la limpa, lúcida, fiel à luz de onde veio. 

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Capítulo 14 - A Oração: Habitar a Presença que Dissolve o Adversário

Orar não é apenas falar com Deus. É voltar para casa. É retornar, por dentro, ao lugar onde o ruído do mundo já não alcança. Orar é entrar em silêncio diante do Silêncio maior aquele que não acusa, não cobra, não exige… apenas acolhe.

Jesus orava. Mas sua oração não era repetição mecânica. Era entrega. Era presença. Era comunhão viva com o Pai. Ele se retirava para orar não porque Deus estava longe, mas porque Ele precisava silenciar as vozes do mundo para ouvir a única Voz que importa: a Voz do Espírito.

O adversário interior não resiste à verdadeira oração.Porque ele se alimenta da separação e a oração desfaz essa separação.

Orar é lembrar-se de quem você é.É lembrar-se de que não está sozinho.É lembrar-se de que há um centro em você que o mundo não pode tocar.E é desse centro que brotam a paz, a compaixão, o perdão, a lucidez.

A maioria ora para pedir. Jesus orava para permanecer.Permaneça em mim, e eu permanecerei em vós ele dizia.Orar, nesse sentido, não é um ato isolado. É uma condição de espírito.É manter-se ligado à Fonte enquanto se caminha entre os ruídos.

A oração verdadeira não precisa de palavras. Às vezes é só respiração.Às vezes é só silêncio. Às vezes é só a firme decisão interior de não sair da Presença.

Na oração profunda, o adversário interior não encontra abrigo.Porque onde há luz, a sombra não prospera.Onde há entrega, o ego se dissolve.Onde há escuta, a alma se alinha.

A oração é a antítese do controle. 

Ela não força, não exige, não manipula. 

Ela confia. 

Ela se rende. 

E ao se render, vence.

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Capítulo 15 - A Cura Original: A Reconexão com Deus como Fim do Adversário.

O ser humano sofre de uma doença primordial: o afastamento de Deus. Toda dor, todo desvio, toda sombra, toda forma de mal tem raiz nesse único esquecimento o esquecimento de quem somos e de onde viemos.

Não há adversário maior do que essa desconexão. Porque, uma vez desligado da Fonte, o ser passa a funcionar em fragmento. Ele busca fora o que só existe dentro. Ele se perde no esforço de se encontrar. Ele corre, revida, acusa, reage sem perceber que está apenas tentando voltar para casa.

O mal, portanto, não é uma força autônoma. É um estado de ausência.Assim como a escuridão é ausência de luz, o mal é ausência de Deus.E por isso não se vence o mal combatendo-o com fúria, mas reacendendo a luz.

A reconexão com Deus não é uma teoria, nem uma crença.É uma experiência interior.É quando o coração se alinha.Quando a mente se aquieta.Quando a alma se recorda.

E é nesse instante que o adversário interior perde força.Porque ele só opera enquanto estamos desconectados.Ele é a voz que grita no vazio e quando Deus habita novamente o centro, o vazio se preenche, e o grito cala.

A cura verdadeira não começa pelo corpo. Nem pela moral. Começa pelo retorno.Pelo reencontro com a Fonte.Pelo assentamento do ser no seio da Presença.

Jesus curava, mas antes da cura, Ele dizia: “Teus pecados estão perdoados.”Por quê? Porque a doença do corpo é apenas uma manifestação visível da desconexão espiritual. E quando a alma volta a Deus, o corpo, a mente, as relações tudo começa a se reordenar.

A reconexão com Deus é a raiz da saúde.É o solo fértil de toda transformação.É o lugar onde o adversário não pode entrar.

Porque ali não há espaço para ele. Ali há luz. Ali há plenitude. Ali há Deus.

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 Epílogo – O Adversário em Mim, a Luz em Mim

A jornada que percorremos neste livro revela uma verdade essencial: 

o adversário que tememos não está longe. 

Não é um ser invisível que habita cavernas ou sombras. O adversário está dentro de nós.

É a parte de nós que escolhe a escuridão. É a parte que se desconecta da origem divina. 

É a sombra que cresce quando esquecemos quem realmente somos.

 Mas também há luz dentro de nós

Assim como o adversário é interno, a luz também é.

Cada ser humano carrega uma centelha divina, uma faísca que jamais se apaga.Ela pulsa no silêncio do coração, mesmo quando tudo parece perdido.

Essa luz é mais forte que qualquer sombra.Mais paciente que qualquer desvio.Mais constante que qualquer queda.

E é essa luz que nos chama de volta, que nos desperta para o reencontro.

 O confronto que liberta

O verdadeiro combate não é contra forças externas,mas contra nossas próprias resistências, medos e limitações.

É um confronto íntimo, silencioso, diário.Um convite para a coragem de olhar para dentro, reconhecer a sombra e acolher a luz.

Não para negar o adversário, mas para transcendê-lo.

 Somos mais que nossa queda

Somos mais que erros, que mágoas, que escolhas equivocadas.Somos a soma de todas as possibilidades de luz que aceitamos manifestar.

A cada passo que damos na direção do amor, da compaixão, do perdão,ficamos mais perto do nosso verdadeiro eufilhos e filhas da luz eterna.

 Um chamado para a vida

Este livro não é um ponto final.É um convite para que cada leitor seja um agente de luz no mundo.Que compreenda sua responsabilidade e seu poder.

Que saiba que o adversário pode estar em nós,mas que a luz também está pronta para ser escolhida, cultivada, compartilhada. 

Que a luz em você seja maior que toda sombra, e que a sua escolha diária seja sempre pelo amor.

  Aprendi que:

Do Adversário Interior à Reconexão com Deus:

A Jornada de Retorno ao Centro

Todo mal começa no esquecimento.

Esquecimento de quem somos.

Esquecimento de quem é Deus.

Esquecimento da nossa origem espiritual, do propósito maior da vida e da quietude que habita no centro do ser.

O adversário interior essa força que nos arrasta para longe da paz não é um inimigo externo, nem uma entidade a ser temida. É o resultado de um desalinhamento. Uma fratura entre o eu e o sagrado. Um estado de separação.

Jesus veio nos lembrar que o Reino de Deus está dentro de nós. E que, por mais escuros que sejam os labirintos do mundo e da alma, sempre haverá um caminho de volta: o caminho da consciência.

Esse livro não é sobre combate, mas sobre retorno.Não é sobre guerra, mas sobre luz.Não é sobre se vingar do mal, mas sobre desativá-lo com presença, escolha e reconexão.


Aprendemos que:

Dar a outra face é manter-se livre diante da agressão;

Silenciar é interromper o ciclo da reatividade;

Perdoar é quebrar o elo com o mal que nos feriu;

Vigiar é manter a alma desperta e lúcida;

Orar é habitar a presença de Deus continuamente;

Reconectar-se com Deus é curar a raiz do mal.

Essa é a jornada. Uma travessia de dentro para dentro. Porque nenhuma verdadeira transformação acontece de fora para dentro. A alma só se cura quando retorna ao centro onde habita a Presença, onde reina o Espírito Santo, onde o adversário não alcança.

Não há maior revolução do que viver em paz num mundo em guerra.

Não há maior força do que conservar a bondade diante do mal.

Não há maior cura do que lembrar-se de Deus e lembrar-se de si.

 Com carinho CR.

 

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